Parte 1 — A economia das plataformas e APIs

Thiago Lima
thiagolima_br
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7 min readFeb 11, 2020

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As plataformas digitais tem mudado drasticamente a economia mundial.

Se ainda tem dúvidas, veja que 7 das 10 empresas mais valiosas do mundo são baseadas no modelo de plataforma digital.

O fato é que os modelos tradicionais não reinam mais... E então, temos a maior mudança econômica desde a revolução industrial.

Com cases relevantes e "clichês", mas que demonstram o poder do modelo das plataformas, como:

  • Uber que tornou-se a maior empresa de transporte do mundo, e não possui veículos.
  • Alibaba que tornou-se a empresa de varejo mais valorizada do mundo, e não possui produtos em seu estoque.
  • Airbnb que tornou-se a maior empresa de hospedagem do mundo, e não é proprietária de imóveis.

O modelo de plataforma tem ensinado a economia moderna que para construir um negócio bem sucedido, é necessário um ecossistema de negócios, ou seja, uma rede inteligente que engloba clientes, fornecedores e parceiros, na busca por um maior valor agregado.

O mundo de negócios está tão dinâmico, que uma empresa pode ter o seu próprio ecossistema e participar de outros ao mesmo tempo, como a Samsung, por exemplo, que tem o seu próprio, mas também participa, e ao mesmo tempo concorre com o da Apple.

Querendo ou não, toda empresa acaba fazendo parte de algum ecossistema, alguns como protagonistas, outros como coadjuvantes.

O fato é que a grande maioria não sabe como, mas quer ser uma plataforma, pois sabem que não estão extraindo o melhor do seu ecossistema.

Por tudo isso, conhecer sobre a economia das plataformas e APIs é tarefa obrigatória para quem quer ter um modelo de negócios bem sucedido nessa nova economia!

Mas afinal, o que é uma plataforma?

Por definição, uma plataforma pode ser qualquer empresa que use tecnologia para criar interações entre dois ou mais grupos de usuários.

Tudo se trata de como as empresas podem trabalhar juntas para criar mais valor do que qualquer uma delas de forma independente.

Na imagem acima, podemos entender os principais atores e seus papéis nesse modelo:

The platform provider (provedor da plataforma): Tem o papel de gerenciar o ecossistema de consumidores, fornecedores e parceiros, criar inteligência de oferta e demanda, definir regras, e prover ferramentas e infraestutura.

Producers (Fornecedores): Tem o papel fornecer produtos ou serviços através da plataforma.

Consumers (Consumidores): Tem o papel de consumir a cadeia de produtos ou serviços disponíveis através da plataforma.

Alguns exemplos de plataformas brasileiras, e que inclusive são unicórnios (valuation > U$ 1B): IFood (conectando restaurantes e usuários com fome), GymPass (Conectando academias com empresas e usuários em busca do bem estar), QuintoAndar (conectando proprietários de imóveis com locatários), e etc!

As características do modelo

Uma plataforma bem sucedida, geralmente, tem as seguintes características:

1- Modelo de negócios habilitado por tecnologia, ou seja, a tecnologia é o que permite a viabilidade do modelo.

2- É um facilitador das interações do seu ecossistema, principalmente entre fornecedores e consumidores. Por exemplo: O Uber facilita uma chamada de motorista para uma viagem, na qual, antigamente tinhamos que fazer por telefone, ou pessoalmente indo à um ponto de táxi.

3- Tem valor proporcional ao tamanho do seu ecossistema, pois é um modelo baseado em efeitos de rede. Por exemplo: O Uber não teria valor se não tivesse sua rede de motoristas.

4- Gerencia a confiabilidade nas interações do seu ecossistema. Normalmente com regras claras, e mecanismos de pontuação. Por exemplo: Imaginem o Uber não nos dando a possibilidade de ver a pontuação dos motoristas, você se sentiria seguro?

6- É escalável para atender um alto volume de consumidores.

7- Oferece uma ótima experiência ao usuário final.

8- Possui conectividade externa. Normalmente, compartilha dados e inteligência através de APIs, que por sua vez, são utilizadas por desenvolvedores e empresas terceiras, possibilitando assim, a criação de novos serviços ao redor do seu próprio ecossistema.

Vale ressaltar que tecnicamente, o que viabiliza o modelo das plataformas são as APIs, que nesse caso, funcionam como a interface de conexão interna e externa.

Vejamos o Uber novamente, o app nada mais é que a combinação de diversas APIs com os seus processos internos, como a do Google Maps para mapas, do Twilio para envio mensagens, e muito mais.

Segundo o estudo da Mckinsey, as APIs irão redistribuir U$ 1 trilhão da economia existente, isso devido ao efeito da economia das plataformas.

Modelo tradicional vs modelo de plataforma

Comparando o modelo tradicional com o de plataforma, podemos notar mudanças significativas, como:

#1 De controle de recurso à orquestração

No modelo tradicional, as empresas controlam seus próprios recursos para entregar ao mercado, por outro lado, no modelo de plataforma, as empresas orquestram recursos do seu ecossistema.

#2 De otimização interna à interação externa

No modelo tradicional, as empresas estão sempre em busca de otimizações nos seus processos internos, por outro lado, no modelo de plataforma, as empresas buscam otimizações revisando as interações do seu ecossistema.

#3 De foco em gerar valor ao cliente final à gerar valor ao ecossistema

No modelo tradicional, o foco é entregar valor ao cliente final, entretanto, no modelo de plataforma, o jogo muda, e a empresa deve gerar valor não só para os clientes, mas para o ecossistema como um todo, ou seja, parceiros, fornecedores, clientes, etc.

Quais são as vantagens e desvantagens do modelo?

Como tudo na vida, sempre existem prós e contras, portanto, caso você queira entrar nessa economia, é importante saber das vantagens e desvantagens do modelo de plataforma.

Vantagens

Escalabilidade: Por ser um modelo baseado em tecnologia e não em recursos, quando uma plataforma consegue acertar o seu modelo de negócios, a tendência é que ela consiga escalar muito mais do que os modelos tradicionais.

Flexibilidade: Por não ter ativos ou recursos, o custo de mudança tende a ser muito menor no modelo de plataforma.

Velocidade: Quando uma plataforma agrega muito valor ao seu ecossistema, o efeito rede funciona como um acelerador do crescimento, criando uma velocidade dificilmente alcançada em modelos tradicionais.

Entrega de valor: Dado que a solução é criada pelo próprio ecossistema, ou seja, por várias empresas somando esforços na construção de mais valor ao cliente final, a tendência é que esse valor entregue seja muito maior do que nos modelos tradicionais.

Desvantagens

Tolerância à falhas: Como o modelo exige uma interação sofisticada entre todas as pontas, caso haja uma falha nesse processo, isso pode impactar diretamente nos resultados.

Complexidade: É extremamente complexo e custoso construir um ecossistema de negócios, visto que é necessário fazer uma estratégia de aquisição e engajamento para diferentes grupos de usuários.

Efeito rede negativo: Por ser um modelo baseado em volume, uma má gestão pode reduzir rapidamente o valor da plataforma. Por exemplo, imaginem uma indisponibilidade da plataforma durante um longo período, isso pode gerar um efeito rede de reclamações gigantesco, e gerar impacto negativo ao negócio.

Gestão de concorrência e negócios existentes: Pense no cenário em que você é uma plataforma, e ao mesmo tempo faz parte do ecossistema de uma plataforma concorrente, saber jogar esse jogo, sem se tornar vulnerável é um grande desafio.

Conclusão

As plataformas vieram como protagonistas no movimento de transformação digital das empresas. Quanto mais a tecnologia avança, mais imbatível fica o modelo, seja por questões relacionadas a custos, ou escalabilidade.

O modelo de plataforma não é apenas para empresas que nascem nos dias de hoje. O modelo também está sendo utilizado como "arma" para manter a liderança em negócios tradicionais, como o Walmart investindo fortemente em dados e liderando o modelo store-as-platform, ou, a Nike se transformando cada vez mais em uma plataforma que conecta corredores aos tênis da marca (projeto Nike+).

Por mais que seja um modelo relativamente novo, os números já são significativos, e empresas tradicionais que estão apostando no modelo de plataforma já tem um aumento anual nos lucros antes de juros e impostos (EBIT) de 1,4%. Sendo esse ganho cumulativo nos anos seguintes.

Não importa se a empresa é tradicional ou digital, adotar uma estratégia de plataforma, seja criando uma própria, ou cooperando com uma existente, virou necessidade competitiva.

E aí, conseguiu entender melhor como funcionam as plataformas digitais?

O assunto não é simples, tanto criar, quanto executar uma estratégia desse tipo pode ser uma tarefa árdua e custosa, entretanto, as empresas que conseguem, encontram uma maneira mais eficiente de crescimento.

Esse é o primeiro artigo de uma série sobre a nova economia das plataformas e APIs, então espero que tenham gostado e até o próximo!

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